Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Acorda-se um blog para vir cuspir coisas de ontem, dia do livro, porque amanhã, dia da liberdade, existe para nos lembrar que dizer o que se pensa é um direito.

Os dias como os de ontem não me entusiasmam por andarem tão cheios de pessoas com ideias pequenas embora equipas de marketing grandes. Lançam-se demasiados livros banais, com estórias demasiado banais.

Mas dias como amanhã, lembram que podemos esgueirarmo-nos da rua larga onde a banalidade polula, para as ruas e vielas estreitas onde o menos vistoso é grandemente compensado pelo mais interessante.

Dos livros

A revolta quase silenciosa acontece quando, livraria após livraria, alfarrabista após alfarrabista, desabafos fragmentados nos incendeiam o entendimento.

Porque a maioria das pessoas gosta de modas onde se pavoneiam as lantejoulas literárias, deixam de se vender os clássicos. É fácil compreender o fenómeno.

O que não se compreende é que na absolvição que uma crise garante, se recolham e destruam todos os exemplares de uma edição.

Contos tradicionais do povo português, de Teófilo Braga e Terrarium de Luis Filipe Silva e João Barreiros (bem como a Colecção Caminho - Ficção Científica, onde este último se insere) são os exemplares cuja procura têm chamado à conversa novos e velhos, alfarrabistas, livreiros e curiosos. Que eles recolheram tudo para queimar por falta de meios de pagar armazenamento. Que outros os recolheram e guilhotinaram para reciclar pelos mesmos motivos. E muitos têm sido os desabafos, estórias e fragmentos a ilustrar o desaparecimento das obras.

O conceito da realidade digital que nos cerca e ensina a poupar papel e espaço, não chega para calar a revolta que emerge só de imaginar centenas de livros a arder ou a cair em tiras. Só porque sim. Uma coisa é pensar uma edição em formato digital. Outra muito diferente é destruir um formato para promover o outro.

Da liberdade

Liberdade também é ter um blogue onde escrever o que se entender. Roubar ao silêncio o que incomoda e torná-lo público. Imaginar, pensar, aprender e partilhar.

Memórias de outros tempos recordam o medo que ensinava à prole a arte da submissão. Dizer que sim. Baixar os olhos. O silêncio e a cumplicidade em troca de uma paz infectada de medo. Medo que Alexandre O'Neill descreve com mestria no seu Poema pouco original do medo...

Depois a liberdade manda por terra os muros abrindo um longo caminho de resgate. Do próprio e do outro. Porque a cultura do medo desidrata o raciocínio e o desenvolvimento de elasticidade no entendimento pode demorar muito tempo. Mas haja vontade e é deitar os pés ao caminho.