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imagem de Blitz

Na segunda metade dos anos oitenta, era no Rock Rendez Vous que os prefixos faziam sentido no Rock: hard, speed, punk, etc., e nesta altura, a rebeldia atingia níveis difíceis de gerir e cheguei a assistir a moches violentos com pessoas a atirarem-se do primeiro andar e a estatelarem-se no chão. Apesar de tudo, ir a estes eventos fazia parte de um enorme grito de libertação que na altura fazia todo o sentido e agora vive apenas como uma memória que não requer grandes análises ou explicações.

Neste contexto, ir ao Dramático de Cascais para ver Destruction, Girlschool e Motörhead era como um upgrade. Mais espaço, mais gente, mais energia.

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imagem de Gudelhudos

E foi assim que a 3 de Abril de 1988 tive a ideia rebelde de trocar o encontro familiar da Páscoa para ir a um concerto de hard rock. Era uma rebeldia enérgica que queria cortar todos os laços com o passado, com as regras cerradas de obediência e silêncio que ainda se impunham nalgumas orlas sociais.

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imagem de Motorheadbangers Portugal

As expectativas foram defraudadas apenas na qualidade do som que aquele recinto oferecia. Mas enquanto a bateria conseguisse sincronizar o ritmo com a energia em palco e no terreno, o momento era de euforia, ou não fosse o carisma de Lemmy capaz de ultrapassar tudo o resto.

Os anos passaram e não os voltei a ver em concerto, nem 11 anos depois quando voltaram a tocar em Portugal. Mas até hoje, jamais deixaram de ter presença obrigatória na música que me acompanha para todo o lado. 

Acordar de manhã e ouvir Overkill é tão energizante hoje como há quase 30 anos. The Ace of Spades continuará ser a minha malha favorita destes malucos e lembro-me que se tornou tal durante um grito colectivo de "I don't want to live forever", no último encore do concerto de 88. De resto, a banda apresenta-se igual a si própria: We are Motorhead.

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imagem de Motörhead Official Facebook page

De salientar que sou incapaz de acompanhar as letras e só faço ideia do que está a ser gritado consultando as letras depois. De resto, independentemente destas, guiei-me sempre pelo som, pela energia, pela velocidade de sensações. E neste contexto, ninguém morreu. A música e a sua energia ficam para sempre no coração e na memória.

Lemmy morreu ontem vítima de um cancro fulminante. Ter morrido, só por si, teria sido apenas constatar as leis naturais da vida. Mas ser vítima de uma doença estúpida, invasiva e que neste caso, nem deu hipótese, é revoltante. Sobrevivi duas vezes a um LNH Centroblástico de alto grau, seja lá o que isso signifique realmente, e por isso tenho um ódio de estimação a esta doença manhosa.

Como diz o quadro de uma colega de trabalho, bordado a ponto cruz: Fuck Cancer.

Resta-me a eternidade das coisas que a morte não leva, como esta peça de Rock And Roll. Enjoy!