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Imagem: Banksy

Primeiro, queria escrever sobre isto de ser uma pessoa de risco, ou melhor dizendo, de vários riscos. E daqui vinha a brincadeira da zebra. Mas o tempo foi passando e deixou de ter graça. Cruzar-me com pessoas sem máscara a falar em todas as direcções e sentir-me ameaçada é demaiado complexo. Quando sabemos não ter arcaboiço para o bicho, chega a ser assustador.

Uma pessoa de máscara protege apenas o outro, sendo que se o outro não a tiver e estiver assintomático, um perdigoto nos olhos e pronto. Assim, para eu estar segura na rua, era preciso que toda a gente usasse máscara. E é aqui que as coisas se complicam. Porque demasiada gente simplesmente não quer saber do outro. Isto é tão básico e tão mau que perdi a vontade de escrever.

Que ideia de comunidade e família têm as pessoas que não se importam? E que país diz que faz e acontece e deixa tudo andar como se nada fosse?

As minhas idas à rua resumem-se ao essencial, porque me stressa demasiado tanta gente sem máscara, pessoas que se continuaram a encontrar com os amigos e andar em bandos, que apanhados em festas de quase vinte pessoas levam um total de 200€ de multa em vez desse valor a cada um. Também não se percebe que entidades como a Polícia Municial, esteja constantemente a dar mau exemplo, sem máscara nem distância, ou com a máscara, mas nos queixos. E é por causa destes todos, que outros, como eu, se enfiam em casa à espera que isto passe.

De vez em quando vou fazer caminhada com uma amiga. Vontade zero e pancas muitas pelo que uma tem de puxar pela outra, que isto de ficar em casa entorpece. Umas horas a andar percorrendo ruas com árvores, sem parar nem tirar máscara durante todo o percurso, e chegar com as pernas moídas, mas vivas. Talvez o tenhamos feito duas ou três vezes desde o início da pandemia. Sábado passado lá fomos esticar as pernas.

Ao chegar ao Parque Eduardo VII, pelo lado de cima, ficámos espantadas por encontrar tanta gente junta. Alheia que tenho andado à novela social que nem sabia do que se tratava, apenas que não seria coisa boa, considerando o aparato, do qual nos afastámos o mais que pudemos. Li depois ter sido uma manifestação contra a forma como a pandemia está a ser gerida. Não, não foi.

Manifestação 20 MArço 2021 Parque Eduardo VII

Eram centenas de pessoas sem máscara nem distância, aos gritos, de onde se salientava, “Tira a máscara!”. Vi pessoas com máscara que guardavam distância, que tiveram de se afastar das investidas dos gritos (e dos perdigotos). Tudo isto com autorização do governo e acompanhados pela polícia. O mesmo governo que se diz ao lado do SNS e que ainda é cedo para baixar os braços.

Em termos políticos parece que se quer ter sol na eira e chuva no nabal, agradar a gregos e a troianos, punir, mas deixar andar que vêm aí as eleições. Talvez saia o tiro pela culatra e as pessoas se lembrem destas merdas. E levantem o cú e vão votar, já agora.

Em termos humanos é triste que se lute pela liberdade só de alguns, mesmo quando essa liberdade atropele a liberdade do outro. Porque o outro é uma minoria. E defender minorias só interessa se não incomodar...

Também não entendo porque não se adoptam medidas concretas. Pessoas que recusem andar de máscara, pelo menos quando o espaço não permite distância de segurança, deviam assinar um documento em como dispensam tratamento em caso de apanharem Covid. Todas as pessoas sem máscara naquela manifestação deviam ter de o fazer.

E não chega a desculpa de que estão fartos disto. Por vossa causa, muitos de nós, estão muito mais fartos disto do que vocês. 



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